sábado, 22 de outubro de 2011

Salve a Malandragem e Salve a Linha dos Baianos

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Há um tempo estou para vir aqui no blog e prestar uma homenagem aos espíritos que possuem a roupagem personificada de malandro devido a sua existência anterior no plano terreno.

Faço, pois com certa atenção já ouvi as suas histórias de amores e dissabores de alguns espíritos enquanto encarnados, dando inclusive boas risadas, pois são fatos ricos em detalhes que só mostram o quanto ainda vivemos próximos a certas armadilhas e é claro, como esquivar delas.

Lembrando que malandro que é malandro, quer o bem de quem está próximo e de si próprio, caso contrário, não passa de um fraldinha suja que tem muito o que correr antes de limpar o que foi feito ao seu redor...

Abaixo exponho uma história que achei muito propícia para mostrar e remover o preconceito devido a ignorância que ainda existe devido a falta de leitura ou encontro com a verdade que vem do emprego da caridade e auxílio fraterno proposto pela Umbanda em nome de nosso Mestre Maior Jesus.

Uma história sobre o encontro de Zé Pelintra com Lampião

Um dia desses, passeando por Aruanda, escutei um conto muito interessante. Uma história sobre o encontro de Zé Pelintra com Lampião…

Dizem que tudo começou quando Zé Pelintra, malandro descolado na vida, tentou aproximar-se de Maria Bonita, pois a achava uma mulher muito atraente e forte, como ele gostava. Virgulino, ou melhor, Lampião, não gostou nada da história e veio tirar satisfação com o Zé.

– Então você é o tal do Zé Pelintra? Olha aqui cabra, devia te encher de bala, mas não adianta…Tamo tudo morto já! Mas escuta bem, se tu mexer com a Maria Bonita de novo, vou dá um jeito de te mandar pro inferno…

 Inferno? Hahahaha, eu entro e saiu de lá toda hora, num vai ser novidade nenhuma pra mim! Respondeu o malandro...
– Além do mais, eu nem sabia que a gracinha da “Maria” tinha um “esposo”! Então é por isso que ela vive a me esnobar! 

 Gracinha? Olha aqui cabra safado, tu dobre a língua pra falar dela, se não tu vai conhecer quem é Lampião! Disse Virgulino puxando a peixeira, já que não era e nunca seria, um homem de muita paciência. 

– Que isso homem, tá me ameaçando? Você acha que aqui tem bobo? E Zé Pelintra estalou os dedos, surgindo toda uma falange de espíritos amigos do malandro, afinal ele conhecia a fama de Lampião e sabia que a parada era dura. Mas Lampião que também tinha formado toda uma falange, ou bando, como ele gostava de chamar, assoviou como nos tempos de sertão e todo um “bando” de cangaceiros chegaram para participar da briga. A coisa parecia já não ter jeito, quando um espírito simples, com um chapéu na cabeça, uma camisa branca, cabelos enrolados, chegou dizendo:

– Oooooxxxxe! Mas o que, que é isso aqui? Compadre Lampião põe essa peixeira na bainha! Oxente Zé, tu não mexeu com Maria Bonita de novo, foi? Mas eu num tinha te avisado, ooooxeee, recolhe essa navalha, vamo conversar camaradas…

– Nada de conversa, esse cabra mexeu com a minha honra, agora vai ter! Disse Lampião enfurecido!

– To te esperando olho de vidro! Respondeu Zé Pelintra.

– Pera aí! Pela amizade que vocês dois tem por mim, “Severino da Bahia”, vamo baixar as armas e vamo conversar, agora!

Severino era um antigo babalorixá da Bahia, que conhecia os dois e tinha muita afeição por ambos. Os dois por consideração a ele, afinal a coisa que mais prezavam entre os homens era a amizade e lealdade, baixaram as armas. Então Severino disse:

– Olha aqui Zé, esse é o Virgulino Ferreira da Silva, o compadre Lampião, conhecido também como o “Rei do Cangaço”. Ele foi o líder de um movimento, quando encarnado, chamado Banditismo ou Cangaço, correndo todo o sertão nordestino com sua revolta e luta por melhores condições de vida, distribuição de terras, fim da fome e do coronelismo, etc. Mas sabe como é, cometeu muitos abusos, acabou no fim desvirtuando e gerando muita violência…

– É, isso é verdade. Com certeza a minha luta era justa, mas os meios pelo qual lutei não foram, nem de longe, os melhores. Tem gente que diz que Lampião era justiceiro, bem… Posso dizer que num fui tão justo assim, disse Lampião assumindo um triste semblante. 

– Eu sei como é isso. Também fui um homem que lutou contra toda exploração e sofrimento que o pobre favelado sofria no Rio de Janeiro. Nasci no Sertão do Alagoas, mas os melhores e piores momentos da minha vida foram no Rio de Janeiro mesmo. Eu personificava a malandragem da época. Malandragem era um jeito esperto, “esguio”, “ligeiro”, de driblar os problemas da vida, a fome, a miséria, as tristezas, etc. Mas também cometi muitos excessos, fui por muitas vezes demais violento e, apesar de morrer e terem me transformado em herói, sei que não fui lá nem metade do que o povo diz. Dessa vez era Zé Pelintra quem perdia seu tradicional sorriso de canto de boca e dava vazão a sua angústia pessoal…

– Ooxxe, tão vendo só, vocês tem muitas semelhanças, são heróis para o povo encarnado, mas, aqui, pesando os vossos atos, sabem que não foram tão bons assim. Todos têm senso de justiça e lealdade muito grande, mas acabaram por trilhar um caminho de dor e sangue que nunca levou e nunca levará a nada.

– É verdade, bem, acho que você não é tão ruim quanto eu pensava Zé. Todo mundo pode baixar as armas, de hoje em diante nós cangaceiros vamo respeitar Zé Pelintra, afinal, lutou e morreu pelos mesmos ideias e com a mesma angústia no coração que nós! 

– O mesmo digo eu! Aonde Lampião precisar Zé Pelintra vai estar junto, pois eu posso ser malandro, mas não sou traíra e nem falso. Gostei de você, e quem é meu amigo eu acompanho até na morte.

– Oooooxxxxxe! Hahahaha, mas até que enfim! Tamo começando a nos entender. Além do mais, é bom vocês dois estarem aqui, juntos com vossas falanges, porque eu queria conversar a respeito de uma coisa! Sabe o que é…

E Severino falou, falou e falou… Explicando que uma nova religião estava sendo fundada na Terra, por um tal de Caboclo das Sete Encruzilhadas, uma religião que ampararia todos os excluídos, os pobres, miseráveis e onde todo e qualquer espírito poderia se manifestar para a caridade. Explicou que o culto aos amados Pais e Mães Orixás que ele praticava quando estava encarnado iria se renovar, e eles estavam amparando e regendo todo o processo de formação da nova religião, a Umbanda…

– …é isso! Estamos precisando de pessoas com força de vontade, coragem, garra para trabalhar nas muitas linhas de Umbanda que serão formadas para prestar a caridade. E como eu fui convidado a participar, resolvi convidar vocês também! Que acham?

– Olha, eu já tenho uma experiência disso lá no culto a Jurema Sagrada, o Catimbó! Tô dentro, pode contar comigo! Eu, Zé Pelintra, vou estar presente nessa nova religião chamada Umbanda, afinal, se ela num tem preconceito em acolher um “negô” pobre, malandro e ignorante como eu, então nela e por ela eu vou trabalhar. E que os Orixás nos protejam!

- Bem, eu num sô homem de negar batalha não! Também vou tá junto de vocês, eu e todo o meu bando. Na força de “Padinho” Cícero e de todos os Orixás, que eu nem conheço quem são, mas já gosto deles assim mesmo…

E o que era pra transformar-se em uma batalha sangrenta acabou virando uma reunião de amigos. Nascia ali uma linha de Umbanda, apadrinhada pelo baiano “Severino da Bahia”, pelo malandro mestre da Jurema “Zé Pelintra” e pelo temido cangaceiro “Lampião”.

Junto deles vinham diversas falange. Com o malandro Zé Pelintra vinham os outros malandros lendários do Rio de Janeiro com seus nomes simbólicos: “Zé Navalha”, “Sete Facadas”, “Zé da Madrugada”, “7 Navalhadas”, “Zé da Lapa”, “Nego da Lapa”, entre muitos e muitos outros.

Junto com Lampião vinha a força do cangaço nordestino: Corisco, Maria Bonita, Jacinto, Raimundo, Cabeleira, Zé do Sertão, Sinhô Pereira, Xumbinho, Sabino, etc.

Severino trazia toda uma linha de mestres baianos e baianas: Zé do Coco, Zé da Lua, Simão do Bonfim, João do Coqueiro, Maria das Graças, Maria das Candeias, Maria Conga, vixi num acaba mais…

Em homenagem ao irmão Severino, o intermediador que evitou a guerra entre Zé Pelintra e Lampião, a linha foi batizada como “Linha dos Baianos”, pois tanto Severino como seus principais amigos e colaboradores eram “Baianos”.

E uma grande festa começou ao som do tambor, do pandeiro e da viola, pois nascia ali a linha mais alegre, mais divertida e “humana” da Umbanda. Uma linha que iria acolher a qualquer um que quisesse lutar contra os abusos, contra a pobreza, a injustiça, as diferenças sociais, uma linha que teria na amizade e no companheirismo sua marca registrada. Uma linha de guerreiros, que um dia excederam-se na força, mas que hoje lutavam com as mesmas armas, agora guiados pela bandeira branca de Oxalá. E, de repente, no meio da festa, raios, trovões e uma enorme tempestade começaram a cair. Era Iansã que abençoava todo aquele povo sofrido e batalhador, igualzinho ao povo brasileiro. A Deusa dos raios e dos ventos acolhia em seus braços todos aqueles espíritos, guerreiros como ela, que lutavam por mais igualdade e amor no nosso dia a dia.

E assim acaba a história que eu ouvi, diretamente de um preto-velho, um dia desses em Aruanda. Dizem que Zé Pelintra continua tendo uma queda por “Maria Bonita”, mas deixou isso de lado devido ao respeito que tem pelo irmão Lampião. Falam, ainda, que no momento ele “namora” uma Pombagira, que conheceu quando começou a trabalhar dentro das linhas de Umbanda. Por isso é que ele “baixa”, às vezes, disfarçado de Exu…


Oxente eu sou baiano, oxente baiano eu sou
Oxente eu sou baiano, baiano trabalhador
Venho junto de Corisco, Maria Bonita e Lampião
Trabalhar com Zé Pelintra
Pra ajudar os meus irmãos…!”

Salve a malandragem e salve a linha dos baianos, tão trabalhosos na linha de Umbanda...

Fonte história: Blog Malandro da Lapa

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Um comentário :

Fernandavisconti disse...

Sensacional!!!

:) 
Bom final de semana!
Fernanda Visconti

Sementes de Luz Plantadas